Este livro é o resultado do trabalho de campo do antropólogo Roberto Malighetti, professor da Universidade de Milão-Bicocca, em uma comunidade brasileira de remanescentes de escravos, denominada de “Quilombo de Frechal”. O autor chegou a morar em Frechal para elaborar o trabalho, que enfatiza sobretudo a conquista da titularidade da terra por esse povo, mediante um dispositivo constitucional que reconhece aos descendentes de antigos quilombolas no Brasil a posse das áreas em que vivem e trabalham. Isso transformou a comunidade, antes objeto de discriminação e racismo, em sujeito etnopolítico. Sua obra, contudo, não é apenas um estudo que se dedica a descobrir uma forma de identidade coletiva numa comunidade em luta contra um latifundiário. De acordo com o professor Ugo Fabietti, da Universidade de Milão, o trabalho de Malighetti é exemplo de como a antropologia está em condições de abordar problemas de interesse amplo e global, e de voltar-se a um público muito além dos especialistas. Fabietti, que prefacia o livro, escreve: “É também um livro que, já aos se apresentar, aponta problemas metodológicos cruciais para o estatuto científico das ciências antropológicas”.